Thursday, July 17, 2008

 

Génesis do 'ser'

Quero que me vejam aqui em minha maneira simples, natural e habitual,
sem apuro e artifício: pois é a mim que pinto.
(Michel de Montaigne – Do Pedantismo, p.4)



Assim que atingi a puberdade deixei de ler livros até ao fim. Começava a ler e, não obstante estar a apreciar a leitura ou não, nunca terminava o livro... Lia um terço do livro, talvez metade. Afinal, a puberdade significava isso mesmo, descobrir por si próprio, e para mim não fazia sentido ter as respostas todas no somatório das folhas que constituiam um livro. Se o assunto causasse um certo grau de incómodo e uma inresolubilidade pertinente os adultos, experientes, se achassem frutífero, dariam-nos ‘as conversas’ com as suas indicações e pontos de vista. Mas a partir daí era connosco e a decisão caberia a nós, à nossa inteligência e perspicácia. Admito que sempre achei mais giro desta forma: dêem-me as fundações mas deixem-me construir com a minha própria arquitectura, e vamos discutindo e debatendo livremente pelo meio. Fui e sou um priveligiado nesta matéria.

Tenho, assim, uma biblioteca pessoal razoável de livros cujos primeiros capítulos me entusiasmaram e entediaram, mas que sempre me iam permitindo treinar o pensamento em vez de domesticar a aceitação. Por favor não confundam isto com pedantismo: embora julgue ter capacidade para embarcar em conversas e discussões de variados temas, não persigo a ostentação do conhecimento mas a cíclica possibilidade de não ter a minha opinião refém de terceiros. Afinal, a identidade de uma pessoa é moldada pelas verdades que acolhe em si, e eu prefiro ser de eu mim mesmo, incompleto como os livros que não terminei, do que ser eu de alguém resignando-me às verdades dos outros. E as contradições que eu possa apresentar são a ironia de um sistema perfeito que me permite renovar e melhorar quando disso for caso. Já alguém disse que não importa ‘lá’ chegar, o que importa é o caminho; São as contradições e as dúvidas que nos tornam auto-suficientes. Que nos fazem caminhar. E pensar.

Este texto começou, como todos os outros, com uma ideia. A ideia serve sempre um propósito, seja ele mais ou menos consciente. A ideia deste texto era apresentar-me a quem me lê, incluindo eu mesmo. O propósito: recomeçar a escrever. Renovar-me, (re)conhecendo-me.

Este é o meu prólogo. Sucinto, pois claro. Os próximos primeiros capítulos seguirão no virar das páginas...

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